Papel da tomografia por emissão de positrões no carcinoma suprarrenal produtor de cortisol
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https://doi.org/10.37085/jmmv7.n2.2025.pp32-36Resumo
Homem de 73 anos, com antecedentes de hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo 2, dislipidemia e insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada. Tinha também história de enfarte agudo do miocárdio com revascularização prévia. Até há um mês, mantinha autonomia funcional, quando iniciou quadro de astenia progressiva, perda ponderal involuntária de 10 kg em quatro meses e edema simétrico dos membros inferiores.
Os exames laboratoriais revelaram hipercortisolismo ACTH-independente, com valores elevados de cortisol sérico e urinário de 24 horas, associados a ACTH suprimido, compatível com síndrome de Cushing de origem suprarrenal. A tomografia computorizada toraco-abdómino-pélvica evidenciou uma massa volumosa na suprarrenal esquerda (5,6 × 3,7 cm), sem adenopatias associadas. A biópsia confirmou uma neoplasia do córtex suprarrenal, com imunomarcação positiva para SF1 e Melan-A, e negativa para PAX8 e Hepatocyte, favorecendo origem adrenocortical.
A avaliação por tomografia por emissão de positrões associada à tomografia computorizada (PET-CT) revelou captação metabólica muito intensa da lesão suprarrenal esquerda (Figura 1), traduzindo elevada atividade tumoral. Foram também identificadas múltiplas metástases ósseas com captação intensa do radiofármaco nos ossos longos, bacia, costelas e omoplata (Figuras 2-3), compatíveis com doença disseminada (Figura 4). Foi ainda observada uma opacidade pulmonar com captação metabólica muito discreta, sem características de malignidade.
Clinicamente, o doente evoluiu com agudização do cansaço, fraqueza muscular marcada e edema dos membros superiores e inferiores, tornando-se dependente para atividades básicas, como a alimentação e mobilidade. Iniciou terapêutica com metirapona, com titulação progressiva da dose, para controlo do hipercortisolismo.
O carcinoma do córtex suprarrenal é uma neoplasia rara e agressiva, frequentemente associada a produção hormonal excessiva, sobretudo de cortisol, originando síndrome de Cushing ACTH-independente. O diagnóstico precoce é difícil e, quando há metástases ósseas multifocais, o prognóstico é reservado, com impacto funcional e qualidade de vida significativamente comprometidos.
Neste contexto, a PET-CT demonstrou-se fundamental na caracterização metabólica da lesão primária, assim como na deteção precoce de metastização óssea, não evidente clinicamente à data do diagnóstico. A informação obtida foi determinante para o estadiamento, definição terapêutica e planeamento de seguimento.
Este caso ilustra a importância da integração entre dados clínicos, laboratoriais e imagiológicos na abordagem de tumores funcionantes da suprarrenal. Destaca-se, em particular, o papel da tomografia por emissão de positrões na avaliação de carcinomas adrenocorticais funcionantes, sobretudo na presença de hipercortisolismo e sintomatologia constitucional, como o cansaço progressivo.
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Referências
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